segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

.o.amanhecer.


O leite quente era o ultimo recurso, não que fosse o melhor mas eu já estava cansado demais pra negar opções. O que eu queria mesmo naquele instante, era uma boa quantidade de cerveja, quem sabe embriagado eu pudesse cair no sono. Na televisão, a mesma chatice de sempre, filmes pé-de-chulé, vendedores habilidosos quando se fala em manipulação, parecia que ele liquidificador/processador/fatiador/picotador/etcs.../seilámaisoque resolveria minha vida toda, só faltava voar e me pedir em casamento e eu ainda podia pagar em apenas 6 parcelas no cartão... chega... nos canais seguintes, na maioria deles, pastores tão habilidosos na arte de manipular quanto os vendedores, ofereciam a vida de mil maravilhas, milagres, o céu, o mundo todo... produzindo uma imagem divina deles mesmos, pra mim não eram mais do que vendedores....

O céu ganhava aos poucos uma coloração avermelhada e o relógio sussurava um pouco mais alto:

- É quase hora de acordar, não é mais hora de dormir.

Mesmo com os olhos fechados percebi como o Sol entrava lentamente pela janela do meu quarto, o pouco sono que me esforcei tanto pra sentir foi embora de vez. Abandonei a cama que tinha cara de festa, o lençol todo amarrotado fora do colchão como se a causa da minha noite insone fosse a companhia de uma mulher. Como manda meus costumes matinais, fumava um cigarro enquanto tomava uma xícara de café do dia anterior assistindo o telejornal.

Com toda sinceridade, eu só tinha interesse em rever os gols do jogo da noite passada, apesar de ter assistido meu Corinthians numa bela atuação eu quis mesmo assim rever os tais.

O Sol estava ali, preparando o asfalto como se prepara uma chapa de lanchonete, porém disfarçado pela cortina cinza composta da já tradicional poluição e neblina matinal. As pessoas “recém-acordadas” de cara feia, o barulho de sempre dos automóveis.... Mais um amanhecer em São Paulo...

O que me arrancou as pregas da boca com sorrisos imensuráveis ontem, hoje me traz um certo desconforto. Fui contratado pra compor por vários anônimos, todos de uma só vez, a cabeça quase parou de tanto trabalhar sem parar. A recompensa veio depois, juntando as pequenas quantias de cada ‘comprador”, uma grande quantia se formou me trazendo a possibilidade de só “coçar o saco” por muito tempo sem preocupações financeiras. Hoje, alguns deles subiram na “escada do show business”, outros são tão anônimos quanto o guarda noturno que só é lembrado por mim por causa das noites insones, que foram mais insones ainda, pq o cretino fica pra cima e pra baixo com sua motocicleta tão silenciosa quanto partida de futebol na áfrica e um apito que eu nunca entendi bem a função que tem.

Ficar sem fazer nada todos os dias, o dia todo já me cansava, mas trocar isso por um emprego era 100% certeza, um investimento que renderia arrependimento.

De acordo com as minhas contas, essa era a 3° sexta-feira que o telefone não tocava sem parar, festa daqui, festa de lá, viajar pra sei lá onde, viajar pra onde eu sei lá, bate e volta, volta e bate e blá blá blá.... até que faz falta, até que não...

Meu quase silêncio pode fluir sem ser agredido ainda mais por novos já velhos ruídos.


texto por Denis Roberto, ou deko, ou deninhu.

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